quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ícaro

"Queda de Ícaro" - Rubens

Algumas das melhores lembranças da minha infância são de meu pai me contando histórias da mitologia grega. Acho que herdei dele a paixão pelos gregos e todos os seus mitos. Acho delicioso que seus deuses e heróis fossem, ao mesmo tempo, extraordinários e detentores de fraquezas e sentimentos tão comuns, tão humanos. Uma dessas histórias falava sobre o prazer de voar...

Dédalo era um artesão muito habilidoso que recebeu do rei Minos, da ilha de Creta, a incumbência de construir o Labirinto, para guardar o Minotauro. Este era um monstro, metade homem, metade touro, filho da rainha Pasífae, esposa de Minos, e de um belíssimo touro que deveria ter sido sacrificado em honra a Poseidon. O Minotauro se alimentava de carne humana, e todos os anos alguns jovens rapazes e moças eram levados para servir-lhe de alimento. Até que o jovem Teseu, tencionando matar o monstro, ofereceu-se para entrar no Labirinto junto aos demais jovens. Quando a procissão seguia rumo ao local do sacrifício, a jovem Ariadne, ao ver Teseu, apaixonou-se à primeira vista. Disposta a salvá-lo, ela procurou Dédalo e lhe pediu que ensinasse a Teseu uma forma de sair do Labirinto. Dédalo deu-lhe um novelo de lã, que serviu para marcar o caminho de volta para a porta do Labirinto. Após matar o Minotauro, Teseu saiu vitorioso trazendo consigo os demais jovens, sãos e salvos. Furioso e sentindo-se traído, Minos prendeu Dédalo e seu jovem filho, Ícaro, no Labirinto. Mesmo sendo o criador do local, Dédalo não conseguia encontrar a saída. Olhando os pássaros que voavam alto no céu, ele teve a idéia de construir asas, que os permitissem sair voando dali. Coletou penas caídas e as uniu com cera. Prontas as asas, instalou-as em suas costas e nas de Ícaro. Antes de saírem, alertou o filho que não voasse muito alto, pois a proximidade com o sol poderia aquecer a cera, derretendo as asas. Ícaro, inebriado com a liberdade de voar, logo se esqueceu dos conselhos de seu pai, passando a voar mais e mais alto. As asas derreteram-se e ele caiu no mar, numa região que passou a chamar-se Icaria.



"A saudade de voar..."
Autor: Ramarago
Site: 1000imagens.com



Relembrar essas histórias tantas e tantas vezes contadas por meu pai me faz sentir saudade de voar. Pretendo começar a contar essas histórias e muitas outras a meus filhos, para que possamos voar juntos, alto, livres e felizes. E, se cairmos no mar, que não seja uma tragédia, mas um mergulho refrescante! 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia das Crianças

"Bernardo, no Iate Clube de Brasília"


Na verdade, esse ano nós tivemos vários dias das crianças. Foi um feriado prolongado de Nossa Senhora da Aparecida e nos concentramos em ter muitas atividades voltadas para elas.
Mas, agora que estou pensando bem sobre os eventos, acho que poderíamos mudar o nome da data, no nosso caso, para DIA DE CRIANÇAS. Acho que combina melhor com o que vivemos nesse feriado. Levamos as crianças para o clube, brincamos com elas em casa, fomos lanchar no Mac Donald's. Elas se divertiram muito. E nós também. Como isso me fez bem...
Olhar para a carinha do Bê ao descer o tobogã do clube...
Nadar com Helena e sentir sua alegria por estar em contato com a água, vibrando com os respingos produzidos pelas outras crianças que passavam por nós...
Vê-los se divertindo por estarem próximos dos primos, João Pedro, Maria Clara e Hugo...
Assistir a um filme de dragões no DVD com o Bê e torcer para os heróis junto com ele...
Tomar sorvete...
Todas essas coisas parecem pequenas mas afagam a alma e nos fortalecem.
Temos que nos lembrar de ter um Dia de Crianças pelo menos uma vez por semana. As crianças ficarão muito felizes e nós... também!



"Momentos de felicidade"
Autor: Paulo Santos
Site: 1000imagens.com

sábado, 9 de outubro de 2010

Amigões

Tive vários animais durante minha vida e sempre amei conviver com bichos. Quando engravidei do Bê, em 2007, eu tinha o Athos, um gato persa amarelo cheio de charme e manha, e a Monique, uma cadelinha poodle muito lady que foi minha companheira por dezessete anos. O Umberto é oftalmologista e tinha pavor de grávidas perto de gatos por causa da toxoplamose, então tive que doar o Athos. Chorei de saudade por meses. Ainda sinto muito a falta daquele amigo desavergonhadamente apaixonado por mim, companheiro inseparável em qualquer minuto que eu estivesse em casa. Quando o Bê nasceu, a Monique já estava tão idosa que mal se continha de pé. Passados poucos meses ela faleceu. Ainda bem que o bebê me consumia muito e nem me foi permitido sofrer demais.

Athos

Monique

Depois que tive que me separar dessas duas figurinhas inesquecíveis, falei para todos que não voltaria a ter outros animais. Eles dão trabalho, nos escravizam um pouco, e nos deixam estraçalhados quando se vão.
Mas com a nossa mudança iminente para uma casa com um quintal espaçoso, o Umberto começou a manifestar o desejo de adquirir um cão. A desculpa inicial era para fazer a guarda. Ele escolheu a raça bullmastiff, pois soubemos que é o melhor cão de guarda para conviver com crianças.
Para resumir, nem sabemos ainda quando vamos nos mudar para casa, pois a obra parece ser a de uma catedral, mas a Naná já está na área (na reduzida área de um apê!!!).
O Umberto é louco por ela. Mas, o Bernardo... Sabe aquela história de que o cão escolhe um entre os membros da família para ser o seu dono? Gente, ela escolheu claramente o Bê! Eles se amam!



Ela é uma cadela maravilhosa: muito linda e tranqüila, carinhosa conosco e com as crianças. Nessas fotos ela estava só com quatro meses, e apesar de já ser um cão enorme, tem um temperamento extremamente dócil.
O nome Naná foi o Bê que escolheu, por causa da cadela babá da história do Peter Pan.
Sua presença me fez lembrar o quão saudável é conviver com animais. Eles nos ensinam amizade, carinho, lealdade, respeito e cuidado. Ver a alegria do meu filho quando está com ela e sentir a reciprocidade desse sentimento me traz muita satisfação.
Bem vinda, Naná! Nossa família acolhe você!

Tremor de terra em Brasília

Como já mencionei em outro post, estamos na maior pindaíba por causa da reforma da casa em que cresci.
Quando iniciamos a obra, eu já tinha juntado um bom dinheiro, que acreditávamos que seria suficiente para cobrir todo o custo da reforma que, a princípio, seria mais uma "maquiagem", uma revitalização da "cara" da casa. Porém, em dois dos banheiros eu queria mexer bastante, pois eles eram resultantes da divisão em dois de um banheiro grande, que eu utilizava quando criança. Esses dois banheiros eram tão minúsculos, que eu nem conseguia imaginar como colocaria a banheira das crianças lá dentro. Mas, para ampliá-los, eu teria que mudar um pilar de lugar. Para isso, chamei um engenheiro calculista para estudar tal possibilidade. Foi como eu descobri que boa parte da estrutura da casa estava comprometida, além de constatar que algumas das paredes nem tinham baldrame (por exemplo, aquela na qual ficava encostada a minha cama durante a metade da minha vida).
Bem, nós resolvemos fazer a reforma para podermos passar o resto da nossa vida nessa casa, para nossos filhos crescerem ali. Para mim, a obra só faria sentido se garantisse a segurança da minha família, muito mais importante do que a beleza da casa.
Estamos reforçando toda a estrutura da casa. O preço da obra praticamente quadruplicou!!!
Façam idéia de como fui criticada na família por estar fazendo esse gasto: fresca, exagerada, cheia de manias são alguns dos adjetivos que me qualificam em razão do que eu chamo de cuidado e zelo. Por mim, tudo bem. Eu e Umberto fizemos o que achamos melhor para nossa família. Mas estamos ralando horrores por isso.
E ontem as manchetes: TREMOR DE TERRA EM BRASÍLIA!!! Vários órgãos estatais chegaram a ser evacuados. No Tribunal em que trabalho e cujo berçário a Helena freqüenta, as berçaristas saíram com as crianças para o estacionamento (que bom que estou de férias!!!).
Sabe que, com todo o aperreio que estamos tendo com a obra, com empréstimos me assombrando as madrugadas sem dormir fazendo contas e mais contas, senti tanto alívio por ter preferido investir na segurança da casa, da minha família.
Nada como ouvir a voz sensata da nossa consciência.
Essa obra está valendo cada tostão, cada noite sem dormir. Estou feliz com a opção que fizemos. Sei que seremos ainda mais felizes ali.


Trilha Sonora: A Casa

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Amor de Irmãos

Fico maravilhada como meus pequenos já demonstram muito amor um pelo outro. A Helena está aprendendo a nos beijar e tem feito isso com todos de quem ela gosta sistematicamente. Mas em relação ao Bernardo ela demonstra uma alegria, uma empolgação que dá gosto de ver. E ele corresponde. Ontem eles protagonizaram uma cena de abraços e beijos finalizada por ele com a declaração: "Eu amo a minha irmã!"




Essa última foto demonstra bem o amor que ela também sente por ele, embora ainda não saiba verbalizar. Como diz o ditado: um gesto fala mais que mil palavras.

sábado, 2 de outubro de 2010

O Jardim da Helena

Nossa princesa completou um aninho na semana passada.
Como estamos na maior pindaíba por causa da casa que estamos reformando, e também porque o apartamento onde estamos morando não caberia mais nem uma agulha além das pessoas da família, fizemos apenas um bolinho para não passar em branco.
Como eu queria que ela tivesse fotos bem bonitas para ter de recordação e não tinha dinheiro para alugar uma mesa decorada e o painel de parede, resolvi tomar coragem para desenferrujar minhas habilidades artesanais e fiz eu mesma uma pequena decoração. Gente! Modéstia à parte, FICOU LINDO!








PS: Só este bolo-escultura maravilhoso é que foi feito pela Maria de Fátima. A decoração foi criada e executada por mim. Os salgadinhos foram feitos pela nossa super-secretária Isabel, que me ajudou também enrolando os docinhos.

PARABÉNS HELENA!!!
CRESÇA FELIZ, SAUDÁVEL E LINDA!
NÓS AMAMOS MUITO VOCÊ.

Sabor da Infância 2




Hoje fomos à festa de aniversário do Gabriel, afilhado do Umberto. As crianças se divertiram bastante e é maravilhoso ver seus rostinhos felizes!
No final da festinha, as lembrancinhas eram álbuns de figurinhas. O Bê ganhou um do Ben 10 e a Helena um da Hello Kitty. A Lena não tem a menor noção e enfiou o pacotinho de figurinhas na boca. O Bê amou a idéia simplesmente porque era do Ben 10.
Mas eu A-D-O-R-E-I quando cheguei em casa e colei as figurinhas para eles. Gente, que saudade que me deu do Xerxes, meu irmão mais velho, que morreu em um acidente de carro em 1979. Nós amávamos álbuns de figurinhas e ficávamos entretidos por horas colando os cromos, trocando as figurinhas repetidas... Isso também tem gostinho de infância...
Vou tentar completar os álbuns dos meus pequenos na maior empolgação!!!


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Estátua

Quando fomos buscar o Bernardo na escola hoje, ele perguntou ao pai sobre o "homem-estátua". Eu não entendi nada e o Umberto explicou que tem um cara que fica todo pintado de azul, imitando uma estátua perto de um semáforo por onde eles passam todos os dias. Como o sujeito não estava lá, inventei para o Bê que ele teria ido ao banheiro. A conseqüência lógica veio em forma de perguntas (e que perguntas): "Ele foi fazer xixi? Ele tem pinto?!" Rsrsrs!

Bernardo "aguando a planta" no Parque
da Cidade (1º/10/2010)

Sabor da Infância



Minha mãe adora jambo, essa frutinha da foto aí em cima. Ela sempre nos contou que, quando era criança, havia um pé de jambo no meio do córrego na fazenda onde ela nasceu. Ocorre que ele sempre ficava carregado de frutas na época da cheia, quando o córrego transbordava. Mesmo assim, ela, que não sabe nadar nem "cachorrinho", ficava sobre uma pinguela (aquele tronco que colocam para atravessar o córrego) se esticando toda para alcançar as frutas que ela tanto adora. Que perigo! Mas para ela valia a pena. De tanto ouvir essa história e ver a sua cara gulosa, eu morria de curiosidade de provar o tal jambo. Quando enfim provei, achei sem-graça. Para mim, tem gosto daquela água com xampu que escorre para o canto da boca quando enxaguamos o cabelo. Juro que penso nisso quando sinto seu sabor! Mas para a minha mãe, naquela época, devia ter gosto de aventura, de desafio. Hoje, acho que tem gosto de infância.
Tenho alguns sabores particulares para o meu "gosto de infância". Alguns são realmente iguarias: ambrosia (ou doce de ovos), bolo de fubá, doce de leite caseiro, doce de pau-de-mamão (esse também tem história para contar depois), doce de mamão lascado (aquele verdinho). Outros nem são esse "manjar dos deuses", mas remetem a lembranças tão maravilhosas... Por exemplo, aquele suspiro tingido de rosa, super comum, que tem gosto de recreio da escola, assim como a bala de fita da Campineira (alguém além de mim se lembra disso?!), ou balas Maluquinha e Banda. Tudo isso tem gosto de infância para mim, e me faz pensar em um tempo mágico e feliz.
Voltando ao jambo, hoje no parque sentamos embaixo de um pé carregadinho. Dei para as crianças provarem. O Bernardo não gostou muito, parece ter achado mais interessante estar comendo algo que nós mesmos retiramos da árvore do que o sabor em si. Já a Helena comeu alguns... Ainda bem que por aqui não há córregos com pinguelas!

Árvores do cerrado

Como estou de férias do Tribunal e não tenho muito que me preocupar com o horário de começar a me "montar" para ficar com "cara de gabinete", tenho levado as crianças logo cedo para o Parque da Cidade. Elas adoram! E eu também! Parece que nesses momentos de sentar no chão e observar as coisas mais simples do mundo a vida também passa mais devagar. Aproveito para fotografá-los e também a tudo o que vejo de bonito.
Hoje nos sentamos sob um pé de jambo (depois tenho histórias sobre isso também). Próximas a nós, várias árvores de cerrado, bem tortuosas, lindas! Sei que tem gente que acha um absurdo dizer que essas pequenas  árvores tortas são lindas, mas eu as acho muito belas! Nasci em Brasília, no cerrado, e cresci vendo essa vegetação.
Certa vez, o meu primo Tristão Botelho (escritor - "A Canção de Heráclito Obscura") estava fazendo uma prova de psicotécnico na qual pediram que o candidato desenhasse uma árvore. Ele desenhou uma árvore de cerrado com todos os detalhes e quase foi reprovado por isso. Consideraram que ele podia ser possuidor de uma personalidade tortuosa. Ele, que também nasceu no cerrado (Paracatu - MG), esclareceu que essa era a árvore que ele conhecia e reconsideraram.
Não consigo vincular a imagem dessas árvores guerreiras a uma personalidade distorcida. Vejo-as como um exemplo de superação: nascem e crescem em um ambiente inóspito. Diante das adversidades do clima do cerrado, elas se curvam, se retorcem, se entortam, mas continuam lá, firmes, se moldando à vida como ela se apresenta, mas sem render-se facilmente. Nossas pequenas árvores tortas nos dão uma lição de força, de caráter.

Foto tirada por mim, em 1º/10/2010, Parque da
Cidade, próximo ao Quiosque do Atleta